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Carbono equivalente - A Linguagem Universal das Mudanças Climáticas

O que é, como faz e porque faz. 


01/06/25


lustração de uma floresta em chamas, com árvores sem folhas pegando fogo e envoltas por fumaça densa e escura. As chamas são intensas, em tons de laranja e vermelho, contrastando com o céu cinzento coberto por nuvens de fumaça. O solo está escuro, com algumas pedras espalhadas. A cena transmite a devastação causada por um incêndio florestal.


Imagina o seguinte, você vai na feira e tenta comprar maçãs, laranjas e bananas. Você pega todas as frutas que escolheu e coloca todas elas em uma única balança, que te dá um preço muito alto. Você fica confuso e se pergunta:

“Como eu vou saber qual dessas frutas é a culpada por esse preço?”.

Bem, isso é exatamente o que acontece quando medimos os gases de efeito estufa (GEE).


Você provavelmente deve ter visto na escola que quando o assunto é aquecimento global e mudanças climáticas temos 3 principais culpados. O carbono (CO₂), o metano (CH₄) e o óxido nitroso (N₂O). Todos estes gases contribuem para o aquecimento global, mas o problema é que eles contribuem de maneira diferente. 


Essas diferenças vêm em duas formas: a intensidade do efeito de aquecimento desse gás e quanto tempo ele fica na camada de ozônio. Por isso, comparar o carbono com o metano seria como comparar uma laranja com uma maçã. 


Nos anos 80, cientistas de diferentes países começaram a estudar o aquecimento global e perceberam que não seria nada fácil comparar esses gases. A solução veio através de um novo conceito, o de Potencial de Aquecimento Global (GWP, na sigla em inglês). 


Os cientistas escolheram o CO₂ como referência – afinal, ele representa cerca de 75% das emissões globais, mas esse número varia bastante – e calcularam quanto cada gás aquece o planeta em comparação com ele. Assim nasceu, finalmente, a tonelada de carbono equivalente, ou CO₂e, a moeda universal das mudanças climáticas.


O que significa?

Medir em carbono equivalente


Na prática, isso significa que podemos medir e comparar todos os gases de efeito estufa em uma única unidade.


“Por exemplo, o metano e o óxido nitroso, têm potencial de aquecimento global maior quando comparado ao dióxido de carbono e nesse sentido, o conceito de equivalência permite avaliar a contribuição de cada gás ao aquecimento global.”

explica em entrevista Priscila Aparecida Alves, integrante do IMAFLORA e da equipe do SEEG no setor de agropecuária.


Para calcular o CO₂e de um determinado gás, basta multiplicar a quantidade emitida desse gás pelo seu valor de GWP100. Esse valor representa quanto cada gás aquece o planeta em comparação com o CO₂, ao longo de um século. 


Olha esse exemplo:

O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) utiliza um valor de GWP100 de 28 para o metano. Isso significa que um quilo de metano tem um efeito de aquecimento 28 vezes maior do que um quilo de CO₂ ao longo de 100 anos.
“É um conceito útil na formulação de políticas públicas e acordos internacionais sobre o clima. Ele permite que governos e organizações comparem e controlem as emissões de diferentes gases de forma mais eficiente, ajudando a estabelecer metas de redução e a criar estratégias assertivas no combate às mudanças do clima.  ”

afirma Alves.


Porém, não é tão fácil assim. Conforme os relatórios do IPCC foram se atualizando, as medidas foram mudando. E existem vários valores que vão de 28 a 36 vezes maior que o carbono (para o metano, especificamente). Mas é claro que não é tão fácil assim. 


Todos os GEEs contribuem para as mudanças climáticas, mas de diferentes formas. Uma dessas formas é o tempo que determinado gás permanece na atmosfera. E é exatamente isso que torna essa medição alvo de críticas. O CH4 é muito mais potente do que o CO2, porém ele permanece muito menos tempo na atmosfera do que o carbono. 


Por isso, existe uma outra forma de medir chamada de GWP20. Essa métrica, continua usando o  CO2 com referência, mas agora mede em ao longo de um período mais curto, 20 anos.


Olha esse exemplo:

Uma tonelada de metano (CH₄) equivale, em média, a 84 toneladas de CO₂ em um horizonte de 20 anos, segundo o IPCC. Já uma tonelada de óxido nitroso (N₂O), equivale a impressionantes 273 toneladas de CO₂ nesse mesmo período. 


O caso brasileiro



De acordo com o SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa), coordenado pelo Observatório do Clima, o Brasil emitiu 2,3 bilhões de toneladas de gás carbônico equivalente (GtCO2e) em 2023 – uma redução de 12% em relação ao ano anterior. Porém, O Brasil ainda está em quinto lugar no ranking dos paises que mais emitem carbono, ficando atrás apenas da China (26%), dos Estados Unidos (11%), da Índia (7%) e da Rússia (4%). 


Mas o perfil das emissões brasileiras é diferente da maioria dos países industrializados. Enquanto, globalmente, o setor de energia é o principal responsável pelas emissões, no Brasil o desmatamento lidera a lista.

“As principais atividades estão relacionadas aos setores de Mudanças no uso da terra e Florestas, Agropecuário, Energia, Resíduos e Processos Industriais. Entre as atividades principais estão: Desmatamento, produção de bovinos de corte e leite e queima de combustíveis em fontes móveis e estacionárias.”,

afirma Priscila. 



O que explica a redução brusca da emissão de carbono em 2023 é que, segundo e SEEG, o reforço no combate ao desmatamento da Amazônia, impulsionado pela retomada do PPCDAm (Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal). Com a retomada do projeto, esse setor teve uma queda de 24% nas emissões. 


Essa redução é boa, mas ainda está longe de ser o ideal. Segundo o Observatório do Clima, se o Brasil emitisse apenas o que emite com o desmatamento, ficaria em 8° lugar no ranking de maiores emissores.


O setor de mudança de uso da terra se destaca negativamente porque o carbono estocado em florestas é liberado em grandes quantidades quando árvores são derrubadas e queimadas. Em 2024 foram derrubados 3.739 km², 7% a menos do que em 2023, quando a devastação atingiu 4.030 km², segundo o Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD)


Além de liberar CO₂ diretamente pela queima e decomposição da biomassa, o desmatamento reduz a capacidade de absorção de carbono (sequestro de carbono) da floresta, agravando ainda mais o aquecimento.


A pecuária brasileira segue sendo uma peça central — e altamente emissora — no quebra-cabeça climático do país. Em 2023, o rebanho bovino brasileiro bateu novo recorde, com 238,6 milhões de cabeças, segundo o relatório análitico da SEEG de 2024. O Brasil continua como segundo maior produtor mundial de carne bovina, atrás apenas dos Estados Unidos. O problema é que esse rebanho emite grandes quantidades de metano por meio da fermentação entérica, coisa que todos os ruminantes fazem — o famoso arroto do boi. Segundo o SEEG, só essa atividade foi responsável por 405 milhões de toneladas de CO₂e em 2023, ou mais de 64% das emissões da agropecuária.


Mas não é só o metano que preocupa. O uso de fertilizantes sintéticos nitrogenados, amplamente empregado na agricultura industrial, lançou cerca de 37,6 MtCO₂e em 2023, devido principalmente à emissão de óxido nitroso (N₂O), um gás com 273 vezes mais potencial de aquecimento que o CO₂ num período de 20 anos(GWP20). Soma-se a isso o uso de calcário agrícola, que sozinho gerou 29,4 MtCO₂e no último ano.


E o elo entre a pecuária e o desmatamento permanece forte: 90% da área desmatada na Amazônia nos últimos 39 anos teve como destino inicial a pastagem. Em 2023, a mudança do uso da terra — em grande parte para abrir áreas de pasto e soja — respondeu por 46% de todas as emissões brutas do país, reforçando a centralidade do agronegócio na crise climática brasileira. 







O outro setor


O setor de mudança de uso da terra se destaca negativamente porque o carbono estocado em florestas é liberado em grandes quantidades quando árvores são derrubadas e queimadas. Em 2024 foram derrubados 3.739 km², 7% a menos do que em 2023, quando a devastação atingiu 4.030 km², de acordo com o Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD)


Além de liberar CO₂ diretamente pela queima e decomposição da biomassa, o desmatamento reduz a capacidade de absorção de carbono (sequestro de carbono) da floresta, agravando ainda mais o aquecimento.


A pecuária brasileira segue sendo uma peça central — e altamente emissora — no quebra-cabeça climático do país. Em 2023, o rebanho bovino brasileiro bateu novo recorde, com 238,6 milhões de cabeças, é o que diz o relatório análitico da SEEG de 2024. O Brasil continua como segundo maior produtor mundial de carne bovina, atrás apenas dos Estados Unidos. O problema é que esse rebanho emite grandes quantidades de metano por meio da fermentação entérica, coisa que todos os ruminantes fazem — o famoso arroto do boi. Só essa atividade foi responsável por 405 milhões de toneladas de CO₂e em 2023, ou mais de 64% das emissões da agropecuária.


Mas não é só o metano que preocupa. O uso de fertilizantes sintéticos nitrogenados, amplamente empregado na agricultura industrial, lançou cerca de 37,6 MtCO₂e em 2023, devido principalmente à emissão de óxido nitroso (N₂O), um gás com 273 vezes mais potencial de aquecimento que o CO₂ num período de 20 anos(GWP20). Soma-se a isso o uso de calcário agrícola, que sozinho gerou 29,4 MtCO₂e no último ano.


E o elo entre a pecuária e o desmatamento permanece forte: 90% da área desmatada na Amazônia nos últimos 39 anos teve como destino inicial a pastagem. Em 2023, a mudança do uso da terra — em grande parte para abrir áreas de pasto e soja — respondeu por 46% de todas as emissões brutas do país, reforçando a centralidade do agronegócio na crise climática brasileira.




De Onde Sai o Carbono?


Desde 1972, as emissões brasileiras de gases de efeito estufa cresceram quase 150%, segundo o SEEG. Mas esse aumento não aconteceu de forma uniforme. O Pará, por exemplo, lidera o ranking em várias décadas, impulsionado pelo avanço do desmatamento na Amazônia, seguido pelo Mato Grosso, com destaque para a agropecuária e mudanças no uso da terra. Já em estados como São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, o peso maior vem dos setores de energia, transportes e indústria.


Entender essas diferenças é impossível sem uma linguagem comum. É aí que entra a importância do conceito de carbono equivalente..


Foi com essa lógica que nasceu nosso aplicativo interativo, baseado nos dados do SEEG, que mostra quanto cada estado brasileiro emitiu, ano a ano, desde 1972.


Você pode escolher um estado e um ano e receber dados interessantes – e importantes – como: a posição de determinado estado no ranking daquele ano de maiores emissões, a variação desse estado em relação ao ano anterior entre outros. Ainda, você pode ver um mapa coroplético que revela, em cores, a intensidade das emissões em cada território. 







 
 
 

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